
A maioria dos conceitos que as pessoas têm sobre a indústria automobilística está sendo abalada pelas novas tecnologias, e a maneira de fabricar os carros deve mudar drasticamente nos próximos anos. Por exemplo, se você perguntar a qualquer pessoa qual é a parte mais importante de um carro, a maior probabilidade é que a resposta seja “o motor”. Mas a Ford, uma das mais tradicionais montadoras de automóveis do mercado global, acaba de tomar uma decisão estratégica que pode parecer estranha para muitos. A empresa concluiu que concluiu que os carros, hoje em dia, são tão complexos e possuem tantos elementos – da eletrônica embarcada até os acessórios de segurança – que os motores a combustão deixaram de ser partes estratégicas e podem ser simplesmente adquiridas de fornecedores terceirizados.
“Os motores já não definem os carros. Não acho que os consumidores pensem mais tanto em motores como faziam há 30 anos”, comentou ninguém menos que o vice-presidente da empresa, John Lawler. “Os motores a combustão antes definiam o que era o veículo – a potência, a cilindrada, o torque e tudo que dizia respeito ao carro. Acho que grande parte disso desapareceu”, explicou Lawler, em uma palestra. Esse raciocínio, em parte, já vem sendo aplicado por outras fabricantes, como a divisão Horse Powertrain, da Renault e da Geely, que abastece carros das marcas Renault, Dacia, Nissan, Mitsubishi, Geely Auto, Volvo Cars, Lynk & Co e Proton com motores híbridos.
A tecnologia sustentável também vai mudar a produção de combustíveis. Por exemplo, a Porsche revelou o novo carro de corrida da Porsche Cup 2026, que usará exclusivamente eFuel, um combustível sintético feito a partir de fontes renováveis. O modelo nem sequer foi testado com gasolina convencional. Todo seu desenvolvimento foi feito utilizando apenas um combustível sintético renovável, o mesmo usado na Porsche Mobil 1 Supercup de 2025. Ele é 100% produzido a partir de matéria-prima renovável, como resíduos orgânicos, biomassa e até CO2 capturado da atmosfera, em uma receita que inclui restos de plantas e alimentos que sobram em lavouras e indústria, como bagaço de cana-de-açúcar, palha de milho, casca de arroz e restos de madeira.
A boa notícia é que todas essas mudanças não significam menos empregos, pelo contrário. Um estudo do ICCT (Conselho Internacional de Transporte Limpo) mostrou que, ao contrário do que se costuma imaginar, a transição para veículos elétricos pode significar mais vagas na indústria automotiva. Embora os motores elétricos tenham menos componentes do que os veículos a combustão (VCs), sua produção pode gerar mais empregos e renda para a economia brasileira. Segundo os pesquisadores, a estrutura de custos dos veículos elétricos não reduz a complexidade produtiva da indústria. Pelo contrário, setores industriais relacionados, como equipamentos elétricos, eletrônica embarcada, sistemas de gestão térmica e motores elétricos, ganham peso na cadeia produtiva. Isso faz com que, mesmo com menos peças, o VE demande intensidade industrial similar ou até superior à dos veículos convencionais. O estudo também observa que, em um cenário de eletrificação, o conteúdo industrial nacional pode crescer, especialmente se houver políticas de fomento à produção de baterias e componentes eletrônicos no país.
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